
O novo ministro de assuntos religiosos do Sudão, Nasr al-Din Mufreh, pede desculpas aos cristãos pela perseguição religiosa e confisco de igrejas, ocorrido no governo anterior ao participar de um culto de Natal em uma igreja que foi muito perseguida.
Após o anúncio do governo sudanês de Natal como feriado pela primeira vez em oito anos, o Ministro de Assuntos Religiosos Nasr al-Din Mufreh, acompanhou funcionários do governo no serviço de Natal da Igreja Evangélica de Cartum Bahri – uma congregação que o governo islâmico anterior havia perseguido por anos.
Em uma coletiva de imprensa depois de visitar várias igrejas em Cartum no dia de Natal, o líder muçulmano enviou um forte sinal de convivência religiosa aos cristãos em um país onde eles sofreram por sua fé sob o ex-presidente Omar al-Bashir.
“Apresento minhas desculpas pela opressão e pelos danos infligidos a você fisicamente, pela destruição causada pelo governo anterior, de seus templos, pelo roubo de sua propriedade e pela injusta prisão e julgamento de seus servos e confisco de edifícios da igreja”. Declarou o ministro de acordo com a Rádio Dabanga.
O Sudão suspendeu o Natal como feriado após a secessão do Sudão do Sul em 2011. A TV do Sudão, administrada pelo governo, no dia de Natal, transmitiu cultos de Natal de várias igrejas em Cartum, incluindo a Igreja Evangélica de Cartum Bahri, cujos membros foram sujeitos a prisões por falsa acusações e cujos bens foram ameaçados.

A congregação faz parte da Igreja Evangélica Presbiteriana do Sudão (SPEC), que foi alvo de disputas de propriedades, com o governo nomeando um comitê administrado pelo governo para assumir o controle da denominação.
À luz dos avanços na liberdade religiosa desde que Bashir foi deposto, o Departamento de Estado dos EUA anunciou em dezembro que o Sudão havia sido removido da lista de Países de Preocupação Particular (CPC) que se envolvem ou toleram “violações sistemáticas, contínuas e flagrantes da liberdade religiosa” e foi atualizado para uma lista de observação.
O Sudão havia sido designado para lista de perseguição religiosa (CPC) pelo Departamento de Estado dos EUA desde 1999.
Bashir, foi deposto pelo exército em 11 de abril após o início de protestos em dezembro de 2018, ele foi a dois anos de prisão por corrupção e posse ilegítima de moeda estrangeira, e ainda enfrenta acusações de planejar o golpe de 1989 que o levou ao poder.
O ex-presidente Bashir, ainda não foi acusado pela repressão no início deste ano, que matou mais de 250 manifestantes.
Entre as 11 pessoas nomeadas para um Conselho para supervisionar a transição do governo civil no Sudão está Raja Nicola Eissa Abdel-Masih, uma cristã copta que atuou como juíza no Ministério da Justiça do Sudão. Ela era uma dos seis civis nomeados para o conselho em 21 de agosto.
Em meio a esses sinais esperançosos, os cristãos no Sudão ainda aguardam a devolução de propriedades confiscadas pelo governo sob Bashir, que também foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por dirigir uma campanha de assassinato em massa, estupro e pilhagem contra civis em Darfur.
Após a secessão do Sudão do Sul em 2011, Bashir prometeu adotar uma versão mais rígida da sharia (lei islâmica) e reconhecer apenas a cultura islâmica e o idioma árabe. Líderes da igreja disseram que as autoridades sudanesas demoliram ou confiscaram igrejas e limitaram a literatura cristã sob o pretexto de que a maioria dos cristãos deixou o país após a secessão do Sudão do Sul.
Em abril de 2013, o ministro sudanês de Orientação e doações disse que não iriam conceder licenças para a construção de novas igrejas no Sudão, citando uma diminuição na população do sul do Sudão. O Sudão, desde 2012, expulsou cristãos estrangeiros e destruiu igrejas.
Além de invadir livrarias cristãs e prender cristãos, as autoridades ameaçaram matar cristãos do Sudão do Sul que não os deixaram ou cooperaram com eles em seus esforços para encontrar outros cristãos.
Após a deposição de Bashir, os líderes militares formaram inicialmente um conselho militar para governar o país, mas outras demonstrações levaram aceitar um governo de transição de civis e figuras militares, com um governo civil a ser eleito democraticamente em três anos.
Espera-se que os cristãos tenham maior voz sob o novo governo. Em setembro, o pastor Mobarak Hamad, ex-chefe do Conselho da Igreja do Sudão, exigiu ao governo de transição devolvesse todos os prédios, terras e propriedades da igreja confiscadas indevidamente pelo antigo regime.
O ministro de Assuntos Religiosos, Mufreh, disse a Asharq Al-Awsat que seu ministério lutaria contra o terrorismo, extremismo e noções de takfiri – punições por deixar o Islã. Mufreh trabalhou anteriormente como líder na mesquita de Al-Ansar em Rabak, ao sul de Cartum.
O novo governo empossado setembro, liderado pela primeira-ministra Abdalla Hamdok, uma economista, tem a tarefa de governar durante um período de transição de 39 meses. Ela vai enfrentar os desafios de erradicar a corrupção de longa data de um estado profundo islâmico enraizado nos 30 anos de poder de Bashir.
Hamad, ex-presidente do Conselho de Igrejas do Sudão, disse que o governo deve recuperar todas as propriedades confiscadas sob o regime anterior, incluindo o Clube Católico e outro prédio pertencente à Igreja do Interior do Sudão.
O Catholic Club, localizado estrategicamente perto do Aeroporto Internacional de Cartum, foi transformado em sede do Partido do Congresso Nacional de Bashir. O edifício da Igreja Interior do Sudão, usado pela Igreja Internacional de Cartum e outras organizações cristãs, foi transformado em escritório do notório Serviço Nacional de Inteligência e Segurança (NISS).
Em 29 de julho, o presidente do Conselho Militar Abdul Fattah Al-Burhan emitiu uma decisão de alterar o nome de NISS para o Serviço de Inteligência Geral. A medida também congelou o artigo 50 da Lei de Serviço de Segurança, que concedeu poderes de inspeção e detenção sem justa causa, utilizados contra cristãos e opositores políticos.
O Sudão travou uma guerra civil com o sul do Sudão de 1983 a 2005 e, em junho de 2011, pouco antes da secessão do Sudão do Sul no mês seguinte, o governo começou a combater um grupo rebelde nas montanhas de Nuba, que tem suas raízes no Sudão do Sul.
O Sudão ficou em sexto lugar na Lista Mundial da Perseguição, nos países em que é mais difícil ser cristão.